AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Rosilene Batista de
oliveira
Rebeca
Rusciolelli Miranda
RESUMO
Este
artigo tem como objetivo refletir sobre a avaliação na educação infantil. Sabemos
que a avaliação nessa modalidade de ensino não tem a intencionalidade de atribuições
de notas ou conceitos e portanto, deve ser realizada através de relatórios, observações
e principalmente registros. O processo avaliativo gera por parte do professor
um olhar subjetivo em relação ao desenvolvimento infantil, pois o ato de avaliar requer por parte do
professor uma atitude de acolhimento e o ato de ensinar e aprender não envolve
somente o aspecto cognitivo, mas sentimentos. O fenômeno da avaliação assusta
os educadores, pois temem em rotular seus alunos criando certos estigmas que os
acompanham por toda a vida escolar. Entretanto, avaliar faz parte do cotidiano
de nossas escolas e sempre estará na pauta das discussões, seja em qualquer
esfera, desde a educação infantil até o ensino superior.
Palavras-
chave: avaliação; registros; educação infantil; subjetividade.
A
avaliação está presente no nosso cotidiano, ela está intrísicamente ligada a
nossa história. Avaliamos sempre que pensamos para onde vamos, o que vamos
fazer, dentre tantas questões que nos acerca podemos entender, então, a
avaliação como algo inerente ao ser humano e portanto, nos processos de
aprendizagem.
A avaliação é um dos temas mais
controversos no campo educacional. Sabe-se que a avaliação tem servido como um
instrumento de controle social pois produz seletividade e promove a exclusão.
Porém cabe a nós educadores, romper com essa idéia ao menos parcialmente. A
tarefa educativa precisa ser amplamente analisada e documentada, o
acompanhamento do processo de aprendizagem de cada sujeito alí envolvido é a
única forma de não valorizar apenas um produto final.
A avaliação tem que ser envolvida
em todos os momentos e caminhar junto com o aprendizado, não se aprende sem
avaliar, ela se destina a obter informações e subsídios capazes de favorecer o
desenvolvimento do sujeito e a ampliação de seus conhecimentos. Avaliar não é
medir, muito mais que isso ela apresenta um valor social e político fundamental
no fazer educativo.
No que se refere às crianças, a
avaliação deve permitir que elas acompanhem suas conquistas e suas possibilidades
de desenvolvimento ao longo de seu processo de aprendizagem, para que isso
obtenha exito o professor deve compartilhar com elas aquelas observações que
sinalizam seus avanços e suas possibilidades de superações de dificuldades.
Assim, no espaço da educação
infantil, a escola tem como obrigação oferecer-lhe um ambiente físico e social
onde essa criança se sinta acolhida e segura para poder enfrentar seus próprios
desafios à medida que eles vão surgindo e possibilitando-lhe aumentar o conhecimento
de sí mesma dos outros inseridos aquele processo.
Portanto considerando todos esses
aspectos supracitados, podemos notar que há uma avaliação contínua onde todos
os aspectos do desenvolvimento da criança possam ser valorizados e em especial
na educação infantil que representa o primeiro contato da criança com a
instituição educacional essas expêriencias vindas dela podem marcar
profundamente a construção do conhecimento pela criança e sua visão sobre a
escola.
Aspectos legais da avaliação na Educação
Infantil na legislação educacional brasileira
A
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN nº 9394/96, na secão II,
referente à Educação Infantil, em seu artigo 31, preconiza que a avaliação
far-se-á mediante o acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o
objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental.
O Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil( BRASIL,1998) propõe uma avaliação formativa com ênfase no
processo de desenvolvimento infantil abrangendo todos os aspectos físicos,
social e psícológico da criança.
A
esse respeito, julgamos oportunas as considerações de Hoffmann (2002), quando
afirma que: ¨A avaliação
escolar, hoje, só faz sentido se tiver o íntuito de buscar caminhos para a
melhor aprendizagem¨ (p.27).
Não é de hoje que existe um modelo
de avaliação formativa, a diferença é que ela é vista como o melhor caminho
para garantir a evolução de todos alunos, uma espécie de passo a frente em
relação a avaliação conhecida como somativa.
Para
muitos professores, antes valia o ensinar, hoje o ênfase está no aprender, isso
significa uma mudança em quase todos os níveis educacionais: currículo, gestão
escolar, organização da sala de aula, tipos de atividades e, claro, o próprio
jeito de avaliar a turma.
O
professor deixa de ser aquele que passa as informações para virar quem, numa
parceria entre crianças e adolescentes, prepara todos para que elaborem seu
conhecimento. Em vez de despejar conteúdos em frente à classe, ele agora pauta
seu trabalho no jeito de fazer seus alunos desenvolverem formas de aplicar esse
conhecimento no dia-a-dia.
Para que a avaliação sirva à
aprendizagem é essencial conhecer cada aluno e suas necessidades. Assim o
professor poderá pensar em caminhos para que todos alcancem os objetivos. O
importante, não é identificar problemas de aprendizagem, mas necessidades.
Conforme as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil, Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009, art.
3º, para que a avaliação torne-se instrumento de acompanhamento das
aprendizagens infantil é necessário que o curriculo de educação infantil deverá
compor um conjunto de práticas que buscam articular as expêriencias e os
saberes das crianças com conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural,
artístico, ambiental, científico e tecnológico de modo a promover o
desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade.
Nessa perspectiva, considerando a
Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica que tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físicos,
afetivo, intelectual, línguistico e social, complementando a ação da família e
da comunidade, inferimos que avaliar na Educação Infantil requer por parte do
professor o objetivo de desenvolver algumas capacidades, tais como: ampliar
relações sociais na interação com outras crianças e adultos, conhecer seu
próprio corpo, brincar e se expressar das mais variadas formas, utilizar
diferentes linguagens para se comunicar, entre outros. A instituição de
Educação Infantil deverá proporcionar às crianças momentos que as façam
crescer, refletir e tomar decisões direcionadas ao aprendizado com coerência e
justiça.
Como avaliar na educação infantil
O
trabalho com crianças pequenas, especialmente na pré-escola deve levar em conta
que a criança é um sujeito histórico e de direitos que, nas interações,
relações e práticas cotidianas que a vivência constrói sua identidade pessoal e
coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta,
narra questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade produzindo
cultura.
Como bem nos ensinou Rousseau
(1712-1778), que a criança não é um adulto em miniatura, a mesma precisa de
liberdade para viver e aproveitar cada fase da sua vida em seu devido
tempo.
Compreender a criança como centro da
ação avaliativa resume- se em observa-la e refletir o significado de cada
momento de convivencia com ela estabelecer a ação avaliativa no seu dia-dia da
educação infantil exige a consideração da criança como razão fundamental dessa
prática, assim como exige tomar consciência de que toda e qualquer ação do educador
têm por base uma intenção.
De acordo com Micarello (2010), em
seu estudo acerca da transições na avaliação, ela nos faz refletir que a
avaliação deve objetivar um conhecimento mais aprofundado das crianças para que
os adultos sejam capazes de mediar, de forma mais adequada, as relações entre
elas e o ambiente no qual estão inseridas. Consequentemente, o ato de avaliar
não pode levar a uma classificação das crianças em ¨aptas¨ou ¨não aptas¨,
¨prontas¨ou ¨não prontas¨, ¨maduras¨ou ¨imaturas¨ e tampouco, pode servir de
instrumento para que as crianças sejam retidas em alguma etapa da educação
infantil ou para que tenham seu ingresso no ensino fundamental adiado.
O ato de avaliar requer uma
atitude de acolhimento do adulto em relação as formas peculiares pelas quais as
crianças se relacionam com o mundo e atribui sentido às suas experiências.
Conceituar o termo subjetividade na avaliação é sensibilizar um olhar para um
processo que necessita ser ressignificado em educação, o que experimentamos,
processamos cognitivamente e passamos a conhecer é necessariamente construido a
partir de nossos ¨blocos de construção¨, e não pode ser explicado de outra
forma que não em termos de nossos próprios meios de construção.
Não há como separar o aspecto
subjetivo da relação ensino-aprendizagem tendo em vista que o próprio
conhecimento é interpretativo. Isso significa que na relação aprendente –
objeto – ensinante há não só o aspecto cognitivo, mas pensamento, sentimento,
motivação, valores, crenças, cultura, tanto de quem ensina quanto de quem
aprende.
Nessa perpectiva, a organização de
planejamento pedagógico centrado na criança é importante, poi requer a criação
de procedimentos para acompanhamento e avaliação do desenvolvimento das
crianças
Considerando a importância das
observações se faz necessário que elas sejam registradas para que não se percam
e possam ser compartilhadas entre os docentes, com as crianças e tambem com as
famílias.
Os registros são outros tipos de
instrumento que qualifica o processo de avaliação na educação infantil. Como as
crianças e as famílias vivem o momento da chegada à instituição? Como as
crianças reagem à presença dos diferentes adultos que interagem com elas? Como
reagem à presença de outras crianças e que reações provocam nas outras
crianças? Que atitude adota quando brinca sozinha ou com os companheiros? Como
respondem as propostas feitas pelo professor? Que temas e/ou objetos mais se
interessam?
O professor pode manter um caderno
no qual registre fatos relativos a cada uma das crianças individualmente:
aspectos da vida familiar, como comentários que as crianças ou os pais fazem
sobre os acontecimentos de casa.
Os registros devem compor desde a vivência
da criança na escola, parceiros com os quais prefere brincar, desentendimentos,
comentários que as mesmas fazem sobre temas que estejam sendo discutidos,
hábitos, preferências, dentre outros aspectos que se julguem relevantes.
As crianças também avaliam suas
experiências na instituição e expressam essa avaliação através de múltiplas
linguagens: dos gestos, das falas, do desenho, da escrita, e tambem a
auto-avaliação.
Outro rico instrumento de avaliação
é o portifólio. Segundo Micarello (2010), este não tem a função de registrar
apenas os produtos das atividades, mas devem refletir o processo de produção,
por isso pode conter também fotos, objetos, coleções. É importante que a cada
dia, seja feito pelo menos um registro, pois isso possibilita ao professor um
retrato dos passos percorridos na construção das aprendizagens.
Enfim, a prática da avaliação, para
manifestar-se como tal, deve apontar para a busca do melhor para os educandos,
por isso ela é diagnóstica e não voltada para a seleção de uns poucos, como se
comportam os exames. Por sí, a avaliação, como dissemos, é inclusiva e, por
isso mesmo, democrática e amorosa. Podemos ver que muitas são as alternativas
para acompanhar o desenvolvimento de nossas crianças, e já que estamos diante
de dessas mesmas modalidades, podemos assim encerrar afirmando que fica o
desafio e o comprometimento de utilizarmos a avaliação na educação infantil
somente com a intenção de formação desse sujeito e não para classificá-los.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL.
Diretrizes Nacionais Curriculares para a
Educação Infantil – CNE/CEB – 05, 2009
_______
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
Estabelece as Diretrizes e bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União.
Brasília, DF, 23 dez.1996
Consultoria
Pública:
HOFFMANN,
Jussara. Avaliar para Promover. 2.ed.
Porto Alegre: Editora Mediação, 2002
_________________ Avaliação. Mito e desafio, Uma Perspectiva Construtivista, 38º ed..
Porto Alegre: Editora Mediação, 2007
MICARELLO,
Hilda: Avaliação e transições na
Educação Infantil Consulta Pública:
Brasília,2009. Acesso em: potal. Mec.gov.br