ALFABETIZAR
E LETRAMENTO: UMA INTERDEPENDÊNCIA NECESSÁRIA PARA AQUISIÇÃO DA ESCRITA
Rosilene Batista de
Oliveira
RESUMO
Este artigo tem como
objetivo refletir acerca da importância do letramento frente à alfabetização.
Precisamos entender que o processo de letramento precede a alfabetização.
Sabe-se que os alunos muito antes de adquirirem a habilidade de ler e escrever
convencionalmente já são capazes de produzir linguagem escrita e atribuir
sentidos aos textos lidos; sem ainda saber ler, podem recontar histórias em
linguagem literária, como se as tivessem lendo, ditar informações sobre um
assunto estudado na classe para que a professora redija um relatório, produzir
oralmente uma carta para um colega alfabetizado fazer o papel de escriba.
Aprender a ler pode significar desenvolver as capacidades necessárias para
poder decifrar o escrito, ser capaz de ler em voz alta um texto qualquer.
Aprender a escrever pode significar ser capaz de grafar o escrito usando com
destrezas os instrumentos com que se escreve: lápis, caneta, papel ou teclado
do computador. Pode ainda significar que se compreende o funcionamento dos
sistemas alfabético de escrita, que se é capaz de estabelecer a correspondência
letra/som e redigir um texto sem que se dependa de que alguém que o escreva em
seu lugar.
Palavras-chave:
letramento; alfabetização; práticas sociais; alunos.
ABSTRACT
This
article aims to reflect on the importance of literacy front of literacy. We need
to understand that the literacy process precedes literacy. It is known that
students long before they acquire the ability to read and write conventionally
are already able to produce written language and assign meanings to read texts;
without even knowing how to read, they can retell stories in literary language,
as if they had read, dictate information on a subject studied in class so that
the teacher draw up a report orally to produce a letter to a colleague literate
play the role of scribe. Learning to read can mean developing the necessary
skills to be able to decipher the writing, be able to read aloud any text.
Learning how to write can mean being able to spell written using skills with
the instruments with
which
it is written: pencil, pen, paper or computer keyboard. It may also mean that
you understand the operation of alphabetic writing systems, which are able to
establish the correspondence letter / sound and write a text without being
dependent on someone to write it instead.
Keywords:
literacy; literacy; social practices; students
INTRODUÇÃO
Nos
anos 80, a perspectiva psicogenética da aprendizagem da língua escrita,
divulgada entre nós e, sobretudo pela obra e atuação de Emília Ferreiro, trouxe
uma significativa mudança de pressupostos e objetivos na área da alfabetização.
Essa mudança permitiu identificar e explicar o processo pelo qual a criança
constrói o conceito de língua escrita como sistema de representação dos sons da
fala por sinais gráficos, isto é, o processo do qual a criança se torna
alfabética. Não
é novidade que nosso país ainda enfrenta o problema do analfabetismo, muitas
crianças saem da escola e outros que não tiveram a oportunidade do saber da
leitura e da escrita. É fato que o Brasil possua um número bem considerável de
indivíduos que não adquiriram o saber necessário para atender as exigências de
uma sociedade letrada. Pensando nesse mal que atinge a população
brasileira em larga escala, este presente artigo visa conhecer a situação que
nosso país se encontra frente a essa realidade, e queremos contribuir para o
esclarecimento e mudanças em algumas práticas pedagógicas, explicaremos neste
texto os conceitos de letramento e alfabetização, a importância da sua
conciliação para uma prática significativa. Durante muito tempo considerava-se analfabeto
o individuo incapaz de escrever o próprio nome, e o que define se o sujeito é
analfabeto ou alfabetizado é aquele que é capaz de ler e escrever um bilhete
simples, ou seja, o foco passou de uma habilidade de codificação para a
capacidade de utilizar a leitura e a escrita em uma prática social.
· 1.1
Letramento: em busca de uma definição:
Segundo Soares (2006, p.17):
Etimologicamente, a palavra literacy
vem do latim littera (letra), com o
sufixo – cy, que denota qualidade,
condição, estado, fato de ser (como, por exemplo, em innocency, a qualidade ou,
condição de ser inocente). No Webster`s
Adicionar, literacy tem a acepção de
¨the condition of being literate¨, e literate é definido como ¨educated; especially able to read and write¨, educado,
especialmente, capaz de ler e escrever. Ou seja: literacy é o estado ou condição que assume aquele que aprendeu a
ler e escrever.
Sabe-se que existe uma diferença
entre saber ler e escrever e ser letrado, a pessoa que sabe ler e escrever e
não faz uso das práticas sociais é alfabetizada, porém aquele que além de saber
ler e escrever faz uso frequente e competente da leitura e escrita esse é
letrado e por estar nessa condição esse sujeito torna-se cognitivamente
diferente, pois ele consegue mudar o seu lugar na sociedade e consequentemente
sua relação com o outro.
¨Torna-se letrado
traz, também, consequências linguísticas: alguns estudos têm mostrado que o
letrado fala de forma diferente do iletrado e do analfabeto, por exemplo:
pesquisas que caracterizam a língua oral de adultos antes de serem
alfabetizados e a compararam com a língua oral que usavam depois de
alfabetizados concluíram que, após aprender a ler e a escrever, esses adultos
passaram a falar de forma diferente evidenciando que o convívio com a língua
escrita teve como consequências mudanças no uso da língua oral, nas estruturas
linguísticas e no vocabulário. (Soares,2006,p.37)
Portanto sabemos que saber ler e
escrever e fazer uso das práticas sociais leva o sujeito a uma condição mais
favorável sobre vários aspectos falando, social, cultural, linguístico e
cognitivo, ou seja, para Soares, somente alfabetizar não garante a formação de
sujeitos letrados.
Para
a promoção do letramento, é necessário que esses sujeitos tenham oportunidade
de vivenciar situações que envolvam a escrita e a leitura e que possam se
inserir em um mundo letrado. Assim letramento está ligado aos usos, às práticas
de leitura e de escrita. além disso, torna-se letrado o indivíduo ou grupo que
desenvolve as habilidades não somente de ler e de escrever, mas sim, de
utilizar leitura e escrita na sociedade.
Ainda
de acordo com Soares (2006), o termo letramento abrange uma gama de
conhecimentos, habilidades, capacidades, usos e funções sociais daí decorrem a
grande dificuldade em defini-lo, e segundo ela o letramento apresenta duas
dimensões principais: a individual e a social.
Para aprender a ler e escrever o
individuo faz uso de um conjunto de técnicas, a esse respeito à autora afirma
que:
Assim
como a leitura, a escrita na perspectiva da dimensão individual do letramento
(a escrita como uma ¨tecnologia¨) é também um conjunto de habilidades
linguísticas e psicológicas, mas habilidades fundamentalmente diferentes
daquelas exigidas pela leitura. Enquanto a habilidade de leitura estende-se da
habilidade de decodificar palavras escritas à capacidade de integrar
informações provenientes de diferentes textos, a habilidade de escrita
estende-se da habilidade de registrar unidades de som até a capacidade de
transmitir significado de forma adequada a um leitor potencial. (SOARES, 2006,
p.69).
Em relação à dimensão social do
letramento, Soares (2006, p. 66) o considera como um fenômeno cultural, um
conjunto de atividades sociais que envolvem a língua escrita. Portanto podemos
dizer que as práticas de leitura e escrita atendem as necessidades do meio no
qual o sujeito está inserido, sendo os contextos sociais, que determinaram o
gênero textual que será lido ou produzido.
Entende-se que se têm duas ações que estão intrinsicamente ligadas, o
letramento e a alfabetização, o mais interessante e o correto seria que a
alfabetização acontecesse em situações de letramento. Dessa forma o papel do professor
é imprescindível para assegurar a possibilidade de seus alunos se tornarem
leitores e escritores de fato. Cabe ao professor importar para a sala de aula
as práticas sociais de uso da leitura e escrita, para que essas se constituam o
contexto das atividades de alfabetização, ou seja, das situações didáticas cuja
finalidade é a reflexão sobre a escrita. Sabe-se
que essa é uma prática necessária aos tempos atuais e para que se possa atingir
uma educação de qualidade e produzir um ensino, em que nossos alunos não sejam
apenas expectadores, mas que se tornem seres pensantes e transformadores da
sociedade. O educador deixa
de ser aquele que passa as informações para virar quem, numa parceria entre
crianças e adolescentes, prepara todos para que elaborem seu conhecimento. Em
vez de despejar conteúdos em frente à classe, ele agora pauta seu trabalho no
jeito de fazer seus alunos desenvolverem formas de aplicar esse conhecimento no
dia-a-dia.
Esse é um dos papeis mais importantes
que o professor tem a realizar, para que seu educando desenvolva seu pensamento
crítico. Esse pensar foi defendido por Freire (1996, p.11) ¨ Percebe-se, assim
a importância do papel do educador, o mérito da paz com que viva a certeza de
que faz parte de sua tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos, mas também
ensinar a pensar certo¨. Portanto
é indispensável que nós enquanto educadores, tenhamos a obrigação de deixar
claro aos nossos alunos, os objetivos e os caminhos que queremos que os mesmos
percorram, com o intuito de favorecermos a apropriação da leitura e escrita por
parte deles. Ferreiro
(2001, p.31) afirma que ¨nenhuma prática pedagógica é neutra, todas estão apoia das
em certo modo de conceber o processo de aprendizagem e o objeto dessa
aprendizagem¨. Ela
ressalta também, que nos processos de aquisição da língua escrita no contexto
escolar, que nós enquanto educadores temos grandes dificuldades no que se refere
a conhecer que o desenvolvimento da leitura e escrita começa bem antes que a
criança adentre o espaço escolar, e que não se trata apenas em aceitar, mas
também de não ter medo de que seja realmente assim, porque na verdade estamos
âmbito escolar. Ela enfatiza que precisamos controlar o
processo de aprendizagem, porque a escola é a instituição social que foi
desenvolvida com esse objetivo, portanto ela deve acontecer na escola. Porém
sabemos que na atualidade na qual estamos inseridos, as crianças já ignoram
essa restrição, a de esperar completar os seis anos de idade e irem para a
escola, pois desde quando nascem, no esforço de compreenderem o mundo, elas já
elaboram o conhecimento. É preciso ter em mente que a grande
maioria de nossas crianças só ingressam na escola a partir dessa idade.
Portanto, não há porque protelar o desenvolvimento de um leitor mais autônomo
em nome de um prolongado processo de letramento. Se há evidências na literatura cientifica de que atividades que estimulam de forma
mais sistemática o desenvolvimento da consciência fonológica afetam
positivamente o processo da leitura e da escrita, sobretudo quando esta
estimulação vem associada à palavra escrita através de jogos o que torna a
aprendizagem mais interessante.
De acordo com os PCN`s,
Leitura e escrita são práticas complementares
fortemente relacionadas, que se modificam mutuamente no processo de letramento
– a escrita transforma a fala (a construção da ¨fala letrada¨) e a fala
influência a escrita (o aparecimento de ¨traços de oralidade¨ nos textos
escritos) são práticas que permitem ao aluno constituir seu conhecimento sobre
os diferentes gêneros, sobre os procedimentos mais adequados para lê-los e
escreve-los e sobre as circunstâncias de uso da escrita. A relação que se
estabelece entre leitura escrita, entre o papel de leitor e de escritor, no
entanto, não é mecânica: alguém que lê muito é automaticamente, alguém que
escreve bem. Pode-se dizer que existe uma grande possibilidade de que assim seja.
É nesse contexto considerado que o ensino deve ter como meta formar leitores
que sejam também capazes de produzir textos coerentes, coesos, adequados e
ortograficamente escritos – que a relação entre essas atividades deve ser
compreendida. (PCN`s volume 2, 1997, p.52/53).
Sabe-se que a criança elabora uma série de hipóteses de leitura e
escrita, resultados não só de vivencias externas, mas também por um processo
interno, ela assimila seletivamente as informações disponíveis e como
interpreta textos escritos antes mesmo de compreender a relação entre as letras
e os sons da linguagem definem critérios e constroem hipóteses para interpretar
o objeto de conhecimento que é a língua escrita. A leitura faz parte de nosso cotidiano indo
além da habilidade de decifrar sinais, ela promove novos saberes no encontro
entre o texto e o leitor. As práticas de leitura e escrita deverão ser
valorizadas pela escola, na qual assimilará as que ocorrem no contexto social,
colaborando assim para a formação de um leitor crítico e para a própria
transformação dessa escola, que ensinará a repensar a função de ler e de
escrever, capaz de transformar e oferecer condições de cidadania e
responsabilidade social a todos os que dela participam. Neste
contexto, cabe a tarefa à escola e de nós educadores o compromisso de aumentar
o repertório dos educandos, gerar condições e ambiente de participação e de
diálogo. Constituindo-se um lugar de aprendizagem, que gera e possibilita
múltiplas situações de leitura e escrita como atividades relevantes e
comprometidas.
É ensinar, que ler e escrever promove socialmente, dá acesso à cultura e
ao conhecimento, é um modo de relacionar o que se faz na escola com o que
existe fora dela. Nesse sentido, a prática de ler e escrever desenvolve-se
através de responsabilidade partilhada entre professor e aluno, em que o
primeiro atua como guia, apoio, mediador, e o segundo como sujeito ativo do
processo. Portanto,
entende-se que a sala de aula é o lugar de reflexão compartilhada, o professor
deve partir das experiências e do conhecimento dos educandos, oferecendo
atividades significativas e atraentes, que favoreçam a compreensão do que está
sendo feito através do estabelecimento de relações entre a escola e o meio
social. Finalmente,
cabe considerar que o letramento não se esgota no aprendizado escolar da
língua, mas implica a inserção reiterada e a mais plena possível do sujeito em
práticas discursivas, nas modalidades oral e escrita, correntes na vida
contemporânea.
Considerações finais
Este trabalho teve como objetivo,
discutir as implicações em torno do conceito do termo letramento, nos dirigimos
a todos aqueles que têm interesse por letramento e alfabetização, por
habilidades e práticas sociais de leitura e escrita, e que também se interessam
por uma análise discursiva das práticas de produção de texto, e busca
compreender as relações autor-texto-leitor, e suas consequências na produção de
diferentes práticas discursivas e diferentes gênero discursivos. Colaboramos
também com o nosso posicionamento acerca do conceito sobre letramento, e para
nós ele é um conceito amplo e complexo, de difícil definição. Mesmo assim, nos
aventuramos a apresentar um conceito único de letramento a partir dos autores
que utilizamos nesse artigo. Não tivemos a pretensão de esgotar a temática, mas
sim, de realizar uma síntese de aspectos teóricos importantes a todos aqueles
que se interessam pelo tema e, especialmente aos professores da Educação
Básica.
Referências:
BRASIL.
Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua
Portuguesa, vol 2, Brasília 1997.
DIOGO,
Emilli Moreira – Letramento e Alfabetização: uma prática pedagógica de
qualidade.
FERREIRO,
Emília. Reflexões sobre Alfabetização/ Emília Ferreiro: Tradução
FREIRE,
Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: editora Paz e Terra, 1970.
GONZÁLES,
Horácio (et. Al.), 24. Ed. Atualizada – São Paulo: Cortez, 2001.
NOBREGA,
Maria José. Ensinar a ler e a escrever num contexto de letramento.
SOARES,
Magda. Letramento: um tema em três gêneros/ Magda Soares, 2 Ed, 11 reimp. -
Belo Horizonte: Autêntica, 2006, 128 p.
-------------,
Magda. Alfabetização e Letramento/ Magda Soares. 3. Ed. – São Paulo: Contexto,
2005.